Niterói, 14 de Março de 1998
Dia destes atrás um conhecido meu foi flagrado pela polícia
"enrolando um baseado" na barca para o Rio. Não foi extorquido pelos
policiais, mas preso. Autuado em flagrante, pagou R$250 de fiança,
e vai responder a processo em liberdade. O advogado que ele consultou,
lhe cobrou R$1.000 para fazer sua defesa. Deverá ser denunciado
no artigo 16 da Lei
6.368/76 podendo ser condenado a detenção de 6 meses
a 2 anos e pagamento de 20 a 50 dias multa.
O conhecido em questão tem 19 anos, é estudante e trabalha com programação visual. Um cidadão comum.
Vi também pela televisão uma propaganda do CONFEN (Conselho Federal de Entorpecentes), afirmando que as três maiores mentiras conhecidas pela humanidade seriam: que o Titanic nem Deus poderia afundar; que a energia atômica seria utilizada somente para fins pacíficos; e que a maconha não é droga.
Com todo respeito ao CONFEN, espero que tal propaganda não seja paga com dinheiro público. Ou se for, seria no mínimo decente para com o contribuinte, utilizar a propaganda com mais eficiência, incluindo na mesma peça publicitária, a mensagem contra o álcool, o tabaco e os tranquilizantes de farmácia. Afinal, droga por droga, melhor é erradicá-las todas.
No entanto, é óbvio que não interessa ao governo e à sociedade que se combata o álcool, o tabaco e os tranquilizantes de laboratório. Por que ir contra o mega capital das cervejarias, das "Souza Cruzes" da vida, dos laboratórios futurísticos? Geram fortunas em impostos e empregos. Injetam milhões em publicidade. Os super craques do futebol, e os super stars da música ganham cada vez mais dinheiro como garotos propaganda. Muita gente ganha dinheiro. Estas mesmas pessoas também bebem, fumam, cheiram etc. Muitas delas consomem ainda um "Lexotam" de vez em quando só para dar uma relaxadinha. Bobagem dar murro em ponta de faca.
Hipocrisia por hipocrisia é bem mais fácil manter a maconha
ilegal, considerá-la droga, trancafiar o "maconheiro" a sete chaves,
do que a sociedade debater o assunto. É mais fácil ocupar
juízes, promotores, defensoria. Endinheirar advogados. Sobrecarregar
a máquina do judiciário com processos intermináveis.
Afinal, a justiça não tem outras prioridades, como julgar
os João Alves da vida, os Nayas, os Collors e uma infinidade de
etceteras. Não esquecendo da polícia. Com a maconha
criminalizada a polícia não perde uma das principais
fontes de dinheiro extra com a extorsão de usuários. Dá
uma grana "legal" ao policial corrupto.
Ah, e antes de finalizar o meu repúdio contra a propaganda do
CONFEN, espero não ser mal interpretado. Não há nas
linhas acima qualquer apologia à utilização ou não
utilização disto ou daquilo. Há sim, a conclamação
para o debate, conclamação contra a hipocrisia. E acima de
tudo, solidariedade com meu conhecido que está encrencado na justiça
por conta desta hipocrisia social.
Evandro B. Sathler - sathler@pobox.com